quinta-feira, 27 de novembro de 2014

EMPREENDER PELOS OUVIDOS*

CONJUGAÇÕES AVESTRUZAS


EMPREENDEDORISMO CULTURAL!


QUE É LÁ ISSO?... 
E a propósito…
Não estou certo... Mas julgo que empreendedorismo cultural tem a ver com empreender. Isto é, o que andam a empreender as gentes da cultura. Empreender no sentido em que na minha terra é sinónimo de cismar. Ou seja, o que se pode fazer com a cultura. Ou o que não se pode fazer. Ou, ainda, o que lhe podem fazer.
É certo que cada época tem o seu léxico. Quando o CDS era pelo socialismo personalista ou quando o PCP era revisionista porque não suficientemente revolucionário... Era o PREC. Ou a era do PREC, como queiram. O léxico pode ser mesmo uma forma arqueológica de datar documentos: dissecando-o, independentemente do conteúdo. Em sociologia histórica é tão ou mais garantido que o recurso ao carbono na física arqueológica.
Todavia, empreendedorismo cultural também pode ser o do ex-banqueiro (ou, não sei, ainda banqueiro?) Salgado, que foi doutor honoris causa pelos serviços prestados à cultura e à economia. O que está completamente certo. Não é ironia. Sobretudo se cultura se entende num sentido mais lato. Neste caso, a dos empreendedores. Traduzindo empreendedores por empresários de sucesso, à luz do léxico-palavreado actual. O sucesso que nos sucede, claro. Ou seja, o da sucessão de factos que têm vindo a acontecer à cultura. Que bem justificariam o carácter cultural do velho Mercado do Bom Sucesso no Porto! Sucesso, mercado, tudo bom!
Daí que não seja de admirar se, amanhã, for privatizado o Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Para ser rentável num empreendimento cultural, como um Hotel, por exemplo. Trata-se da batalha contra o déficite. O déficite cultural de quem nos governa para nos recuperar do léxico do PREC.



Ou, porque não?, também o Museu Nacional de Arte Antiga na saga de reformas estruturais modernas.


Ou a concessão do Teatro Nacional de São Carlos. Será a prova irrefutável da flexibilidade de um poder político, não autoritário. Antes disponível para concessões a quem opera em operações de êxito. Ou êxodo, palavra cognata daquela.



Ou, já agora, igualmente o Dona Maria II transformado em Parque de Estacionamento privado de automóveis. Porque de espectáculos privados há muito que o é, desde que desapareceu a Companhia e tudo ficou mais só. Embora também se possa pensar no resgate soberano dos estábulos da Inquisição por uma Companhia. Uma Companhia de petróleo, por exemplo, que conhece os cavalos dos automóveis que por lá vão passando.


Mesmo assim guardo a secreta esperança de que ninguém mais, da cultura – da outra de que Goebbels não gostava - empreenda pelos ouvidos, tal é a criatividade destes artistas da gestão.

Ou congestão cultural súbita. Seria uma mais-valia para audições, audiências, auditorias e auditórios. Mais valia que estivessem surdinhos.


  (Artigo de Castro Guedes, Director Artístico de Dogma\12, no Jornal “Público” de 9 de Novembro de 2014)

*Ilustrações deste Blog, não constantes da edição do jornal.



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

MANIFESTO ADICIONAL




 

MANIFESTO ADICIONAL
SE ELES SACAM DO REVÓLVER AO OUVIR FALAR DE CULTURA,
QUE A CULTURA SAQUE DO SEU ATÉ FICAREM ELES SURDOS…

1.      Que os artistas com as suas consciências se não silenciem.
2.      Que a cultura e a arte não morram na solidão de si mesmas.
3.      Que se faça das ruas da cidade o palco do combate.
4.      Que se agitem as consciências sem propaganda ou catequese.
5.      Que a luta de hoje pelo pão seja a da flor da arte amanhã.



Lisboa, 12 de Novembro de 2014
- Muito em breve, na cidade de Lisboa, Dogma\12 apresenta-se com os “IMPREVISTOS REAIIS”.
- Acções teatrais directas e curtas e IMPREVISTAS que permitam que da ficção cénica saia a discussão cidadã sobre factos REAIS.
- Pela palavra, falada e escrita, pelos corpos, por imagens e objectos, uma comunicação imediata e eficaz.
- Sem hora, nem dia marcados, acontecem quando têm de acontecer e onde tiverem de acontecer.
- Apenas à comunicação social se dará conta, quase sobre a hora, de quando, onde e sobre quê.

sábado, 1 de novembro de 2014

COMUNICADO

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SUSPENSOS ENSAIOS DE “O MONÓLOGO DO BANQUEIRO”. ATÉ JÁ, JÁ, JÁ!

DOGMA\12 acaba de suspender, sine diae, os ensaios de “O Monólogo do Banqueiro”.

As razões que o determinam, mais do que quaisquer dificuldades, que sempre foram ultrapassadas, residem na necessidade de proceder à alteração da programação face ao agudizar das situações preparadas para a vida artística e cultural a muito breve prazo. Condições que DOGMA\12 sabe o que são e significam, e sabe que reflectem as políticas gerais de retrocesso civilizacional e sobre-exploração do povo português, mormente num momento de terra queimada antes da queda do actual poder.

Ora, sendo o teatro um sector de actividade que, por natureza, se realiza no momento e cuja efemeridade reclama uma maior proximidade do seu próprio tempo, DOGMA\12 entende como necessário, ou mesmo incontornável, realinhar os seus eixos de acção no e para o imediato. Pelo que a esta suspensão não se segue, nem ela significa, um vazio, mas uma resposta ainda mais acutilante e destemida, como sempre tem sido seu timbre.

Mesmo que o tempo seja transitório – e tudo indica que pelo menos nesta forma mais gravosa e escabrosa o será – DOGMA\12 assume-se coerentemente e não só não desiste, como antecipa a referida resposta.

Até já, mesmo já, já…  

31 de Outubro de 2014